terça-feira, janeiro 08, 2008

Meta-Comédia, Humor Extremo



Com uma introdução clássica, iniciam-se artigos desta natureza: enquadramento histórico, algumas citações e até mesmo algum acontecimento passado que além de contextualizar o leitor, tenta prende-lo ao texto. Ainda pensei em tentar escrever este artigo nestes moldes mas faltou-me algum tipo de motivação para o fazer, e então não o fiz. Até mesmo o facto de escrever este artigo em português já me cansa.

A piada quando demasiado simples, e temos que ter noção que este “simples” se vai tornando cada vez mais complexo com o passar dos tempos, acaba por falhar o seu objectivo. Talvez por ser algo que já foi pensado, alguma situação que ocorre frequentemente, falta de riqueza factual ou qualquer outra coisa que me borbulha no cérebro e não a consigo clarificar.

Até começo a pôr em causa se foi uma boa ideia escrever sobre este tema, e se terei eu capacidade para explicar uma coisa que é sentida por mim, e se conseguirei transmitir a ideia que sustenta a minha teoria do Humor Extremo.

O Humor Extremo trata de vários conceitos, aparentemente disconexos, desemparelhados, factos, ideias que aparentemente não têem ligação. Podemos dizer que no Humor Extremo, o Humor Semântico e Contextual representa um papel muito importante, como o cimento da pedra basilar da comédia deste tipo Humor.

Não se trata de comédia por comédia, mas de pequenas e subtis associações, relações e até algumas mutações entre conceitos e relações entre eles, de forma a que a piada “extrema” ao ser transmitida estimule o receptor a que para além de ter de compreender o significado dos conceitos individuais, ser capaz de os interligar atrávés de uma ginástica conceptual e associativa, encontrando o humor, não só no conceito individual, mas tambem nas sinuosas e nem sempre claras associações entre eles.

A isto chamo-lhe Meta-Comédia: uma comédia de alto nível, inteligente, pespicaz, flexivel, dinâmica, fluida, comédia capaz de gerar comédia. Acredito que este tipo de comédia teva a sua origem no Humor Filosófico, amplamente difundido pelos imortais Monty Python, e que pode ser vista na sua obra.

Por vezes pode ser considerada ridicula e de facto Humor demasiado Extremo para a época pode nem ser considerado Humor devendo-se isto talvez devido ás limitações dos receptores, que incapazes de compreender as ligações intrínsecas á piada, a rotulam como algo sem sentido e desta forma automaticamente a piada falha.


Exemplo de Humor Extremo:

Tipo Mogli, filho de Carolina”

Interpretação:
Mogli, miudo que vivia na selva e caçava animais ferozes. Se Mogli caçasse baleias, seria Mogli, Filho do Mar, e sendo o mar Salgado como Carolina Salgado, ex namorada de Jorge Nuno Pinto da Costa, portanto Mogli, filho de Carolina.

Humor Semântico intrínseco:
O Mogli poderia ser o filho bastardo de Pinto da Costa de de Carolina Salgado. Mogli saberia nadar? Um miudo com lança e tanga no meio do mar á caça de baleias? O puto Mogli, socio e provavelmente próximo Presidente do FCP? Uma estátua do Mogli á porta do estádio do Dragão?
E Mogli num bar de alterne de tanga e com uma lança, a cheirar a óleo de baleia, sendo assediado por velhos pedofilos?
Mogli, filho de Carolina e Pinto da Costa á semelhança de Jesus, Maria e José, o Sapateiro (e porque não Sapateiro?.)? Maria vs Carolina (descubra a vigem), Sapatarias Pinto da Costa: biqueira de aço e sapatinhos de cimento para ir ver os peixinhos.
Mogli e Baby Jesus tanguinha de leopardo e prendas de natal e iPods.
Mogli com um iPod? Que musica ouviria? Megadeth?


Chegarão os tempos onde este nível de Humor será utilizado por todos. A raça humana atingirá um nível de abstracção cómica que bastarão frases como a acima, para que todo o conjunto de associações humorísticas seja feito instantâneamente, e o poder acumulativo das mesmas potencie ainda mais o coeficiente humorístico.

Não me supreende que a maioria dos leitores possa não ter achado piada a “Tipo Mogli, filho de Carolina”, frase que necessitou de algumas associações, até secalhar difíceis e rebuscadas, o que no fim de todas elas, e ja passada alguma actividade cerebral provocou que a essência humorística tenha sido perdida. Não pretendo afirmar que o leitor que não achou piada á frase é um mentecapto, quero apenas frisar que para que o humor tenha o maior efeito possível actualmente, este tipo de piada tem de ser entendida o mais rápido possível depois de ser contada, ou o leitor perder-se-á em significados, relações, contextos dúbios e começará a desacreditar o teor humorístico da piada.

O treino deve ser mental, e a capacidade de estabelecer relações entre as coisas, com alguma criatividade e imaginação como ingredientes, deve ser desenvolvida e amplamente explorada.

O conceito de Meta-Comédia/Humor Extremo ainda não está completamente fechado, e existem definições e assunpções que deverão ser feitas, pelo que o que vos apresento aqui é apenas um esboço de algo que há já alguns tempos germina na minha cabeça.